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quinta-feira, 9 de junho de 2011

A parábola do peregrino.

Conta-se em alguns distritos distantes a história de um forasteiro. Seu nome era Juarez (leia-se "rruares"), e simplesmente não conseguia ficar muito tempo em um só lugar. Por ser um peregrino, e de família de origem ligeiramente humilde, Juarez cometia pequenos delitos para bancar suas aventuras. Roubava galinhas e rabanetes para se alimentar e vendia o que sobrava para conseguir dinheiro, e assim viajar pelo Oeste Selvagem. Não via nisso problema algum. Já tinha as manhas da vida.

Porém certa vez, no meio da noite, resolveu fazer um pequeno roubo antes de partir da cidade de El Benjamin. Ao invadir o celeiro, um fazendeiro bem idoso fazia a ronda noturna. Ele estava armado, e assim que viu Juarez, apontou o cano de sua espingarda em direção ao olho esquerdo do intruso, mirando bem, enquanto exclamava: Parado, meliante!

Juarez não conseguia se mover. Viu sua vida de desilusões passar diante dos seus olhos, enquanto uma gota de suor escorria de sua testa e pingava no chão árido. Até que o fazendeiro lentamente moveu sua mira para o que estava em suas mãos, e viu que eram apenas algumas batatas. Ele se assustou, e abaixou a arma. Mandou que o peregrino fosse embora. E que levasse as batatas. Juarez quis seguir seus instintos de sobrevivência e sair correndo dali o mais rápido possivel, mas não conseguiu. Alguns acreditam que nesse momento a voz do fazendeiro fez com que viesse a tona a voz de seus pais, que algum dia lhe ensinaram o certo e o errado. Juarez mudou sua fisionomia. Decidido, caminhou em direção ao fazendeiro, entregou as batatas, e pediu desculpas.

O fazendeiro então, largou a arma, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Juarez não entendeu nada. O ancião convidou-o para comer com ele, o deu roupas limpas e uma boa cama. Sua esposa, de nome Piedad Gonzales (leia-se "piedá gonçales"), cuidou de seus pés e mãos feridos e lavou suas roupas. Juarez não conseguia compreender de onde vinha tanto afeto, afinal a algumas horas ele tentara roubar o sustento daquele casal de idosos.

Na manhã seguinte, e fazendeiro acordou Juarez bem cedo. Deu a ele uma passagem, e algum dinheiro. Tiveram uma conversa de cerca de 32 minutos. Juarez então partiu, e jamais olhou pra trás. Viveu uma nova vida. Anos depois, enquanto caminhava para pegar uma diligência rumo a seu trabalho na capital, seu mensageiro trouxe a informação de que havia uma herança à sua espera na cidade de El Benjamin.

Ao voltar ao lugar que mudou sua vida, Juarez viu que o que achou ser uma arma era na verdade uma bengala. Descobriu que Piedad era uma velha amiga do fazendeiro, e não sua esposa. Em nenhum lugar havia o nome do fazendeiro misterioso. Olhou para a mesa e viu que havia um saco de sementes. E um bilhete.

Niguém sabe ao certo o que estava escrito. Muitos acreditam que eram instruções de como ligar o forno e técnicas de semeadura. Porém alguns dizem que nele estava escrido "Sementes. O segredo está em preparar o solo e só então lança-las. E tenha fé nas sementes."

Por: Michel Furtado

Um comentário:

  1. Muito bom. Assim deve ser passado o Evangelho. Sem pressa, com misericórdia e amor. Não em malucas missões relâmpago que estupram culturas nas Fronteiras do Oriente. Parabéns.

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