Porém certa vez, no meio da noite, resolveu fazer um pequeno roubo antes de partir da cidade de El Benjamin. Ao invadir o celeiro, um fazendeiro bem idoso fazia a ronda noturna. Ele estava armado, e assim que viu Juarez, apontou o cano de sua espingarda em direção ao olho esquerdo do intruso, mirando bem, enquanto exclamava: Parado, meliante!
Juarez não conseguia se mover. Viu sua vida de desilusões passar diante dos seus olhos, enquanto uma gota de suor escorria de sua testa e pingava no chão árido. Até que o fazendeiro lentamente moveu sua mira para o que estava em suas mãos, e viu que eram apenas algumas batatas. Ele se assustou, e abaixou a arma. Mandou que o peregrino fosse embora. E que levasse as batatas. Juarez quis seguir seus instintos de sobrevivência e sair correndo dali o mais rápido possivel, mas não conseguiu. Alguns acreditam que nesse momento a voz do fazendeiro fez com que viesse a tona a voz de seus pais, que algum dia lhe ensinaram o certo e o errado. Juarez mudou sua fisionomia. Decidido, caminhou em direção ao fazendeiro, entregou as batatas, e pediu desculpas.
O fazendeiro então, largou a arma, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Juarez não entendeu nada. O ancião convidou-o para comer com ele, o deu roupas limpas e uma boa cama. Sua esposa, de nome Piedad Gonzales (leia-se "piedá gonçales"), cuidou de seus pés e mãos feridos e lavou suas roupas. Juarez não conseguia compreender de onde vinha tanto afeto, afinal a algumas horas ele tentara roubar o sustento daquele casal de idosos.
Na manhã seguinte, e fazendeiro acordou Juarez bem cedo. Deu a ele uma passagem, e algum dinheiro. Tiveram uma conversa de cerca de 32 minutos. Juarez então partiu, e jamais olhou pra trás. Viveu uma nova vida. Anos depois, enquanto caminhava para pegar uma diligência rumo a seu trabalho na capital, seu mensageiro trouxe a informação de que havia uma herança à sua espera na cidade de El Benjamin.
Ao voltar ao lugar que mudou sua vida, Juarez viu que o que achou ser uma arma era na verdade uma bengala. Descobriu que Piedad era uma velha amiga do fazendeiro, e não sua esposa. Em nenhum lugar havia o nome do fazendeiro misterioso. Olhou para a mesa e viu que havia um saco de sementes. E um bilhete.
Niguém sabe ao certo o que estava escrito. Muitos acreditam que eram instruções de como ligar o forno e técnicas de semeadura. Porém alguns dizem que nele estava escrido "Sementes. O segredo está em preparar o solo e só então lança-las. E tenha fé nas sementes."
Por: Michel Furtado
Muito bom. Assim deve ser passado o Evangelho. Sem pressa, com misericórdia e amor. Não em malucas missões relâmpago que estupram culturas nas Fronteiras do Oriente. Parabéns.
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